Quais os principais mitos sobre TDAH?
Ao longo dos anos, alguns mitos e equívocos estão envolvendo o TDAH, o que pode levar a estigmas de pacientes e falta de compreensão das demais pessoas.
Comportamento inadequado
O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento, reconhecido por organizações médicas e científicas em todo o mundo. Os sintomas do TDAH como: falta de atenção, hiperatividade e impulsividade, são causados por diferenças neurobiológicas e não são simplesmente uma desculpa para comportamento inadequado dos pacientes.
Afeta apenas crianças
Embora o TDAH seja inicialmente diagnosticado na infância, seus efeitos podem se arrastar na adolescentes e adultos.
A prevalência global de TDAH em adultos é de 2,58% para TDAH persistente e 6,76% para TDAH sintomático (Song P, Zha M, Yang Q, Zhang Y, Li X, Rudan I; Global Health Epidemiology
Reference Group (GHERG). The prevalence of adult attention-deficit hyperactivity
disorder: A global systematic review and meta-analysis. J Glob Health 2021;11:04009)
É falta de disciplina
O TDAH não é causado por má criação, falta de disciplina ou falha dos pais.
Crianças e adolescentes com TDAH e impulsividade geralmente lutam com a disciplina devido à incapacidade de controlar seu comportamento (Pittman, J. D. (2011). ADHD impulsivity, discipline referrals, sexual harassment, and criminal sexual deviancy. The ADHD Report, 19(1), 1–6.)
Todos são hiperativos
Embora a hiperatividade seja um dos sintomas mais comuns, nem todas as pessoas apresentam essa característica. Existem três tipos de apresentação do transtornos: predominante desatento, predominante hiperativo/impulsivo e o tipo combinado.
A prevalência do subtipo de hiperatividade do TDAH entre crianças do ensino fundamental foi avaliada por 28,60% dos entrevistados (Hamidzadeh A, Kharatha M, Bazghaleh M, Basirinejad H, Aghdam NF, Ebrahimi H. The prevalence of attention-deficit hyperactivity disorder and its related risk factors among children at elementary school in Shahroud. J Educ Health Promot. 2021 Sep 30;10:341. doi: 10.4103/jehp.jehp_46_21. PMID: 34761027; PMCID: PMC8552256.)
Pode ser curado com força de vontade
O TDAH não pode ser "curado" apenas com força de vontade. É uma condição neurobiológica que requer intervenção adequada e tratamento multidisciplinar.
Crianças com TDAH podem ter déficits na autorregulação ou inibição comportamental, o que pode se manifestar como falta de força de vontade (Westby, Carol E. PhD; Cutler, Susan K. PhD. Language and ADHD: Understanding the bases and treatment of self-regulatory deficits. Topics in Language Disorders 14(4):p 58-76, August 1994..)
O remédio transforma as pessoas em "zumbis"
Os Medicamentos prescritos para o tratamento do TDAH visam ajudar a equilibrar a química do Sistema Nervoso Cerebral, reduzindo os sintomas.
Os medicamentos para TDAH, embora difiram em seus mecanismos sinápticos, acabam por atuar em redes neurocognitivas a curto prazo. Os psicoestimulantes são altamente eficazes, quando comparados a outros medicamentos psiquiátricos. Não estimulantes, embora menos eficazes devem ser consideradas em situações especiais. Intervenções psicossociais são especialmente úteis para crianças muito jovens cou distúrbios leves, ou como um tratamento complementar.
A seleção do tratamento deve depender de um processo de tomada de decisão compartilhado entre o clínico e seu paciente. Os principais aspectos a serem considerados pelo clínico são idadedo paciente, gravidade do distúrbio e comorbidades. (Caye, A., Swanson, J.M., Coghill, D. et al. Treatment strategies for ADHD: an evidence-based guide to select optimal treatment. Mol Psychiatry 24, 390–408 (2019). https://doi.org/10.1038/s41380-018-0116-3)
Conclusão
Devemos desmistificar os mitos sobre o TDAH para promover uma compreensão precisa e compassiva dessa condição. O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento, que afeta crianças, adolescentes e adultos. Não representa uma desculpa para comportamento inadequado, nem pode ser curado apenas com força de vontade. Dentre os tratamentos mais adequados estão a intervenção medicamentosa, porém outras intervenções combinadas também devem ser realizadas para uma melhora funcional do paciente.
Referências
https://jogh.org/documents/2021/jogh-11-04009.pdf
https://psycnet.apa.org/record/2015-25107-001
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8552256/
https://journals.lww.com/topicsinlanguagedisorders/Abstract/1994/08000/Language_and_ADHD__Understanding_the_bases_and.6.aspx
https://www.semanticscholar.org/paper/Treatment-strategies-for-ADHD%3A-an-evidence-based-to-Caye-Swanson/db3719910a1128ff1f8b329a7cde1418d295ad64