TDAH e TOD na adolescência: como influenciam a trajetória escolar, a saúde mental e até a renda na vida adulta
Introdução
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e o Transtorno Desafiador Opositivo (TOD) são condições do neurodesenvolvimento que se manifestam ainda na infância e adolescência, mas cujos efeitos podem se estender por toda a vida.
De acordo com o DSM-5-TR (APA, 2022), o TDAH é caracterizado por um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que interfere no funcionamento ou no desenvolvimento, com início antes dos 12 anos. Já o TOD envolve um padrão de humor irritável/raivoso, comportamento argumentativo/desafiador ou atitude vingativa, presente por pelo menos seis meses, também com impacto negativo nas relações sociais, acadêmicas ou ocupacionais.
Um estudo longitudinal recente, conduzido com a Northern Finland Birth Cohort 1986, mostrou que sintomas de TDAH e TOD na adolescência podem estar relacionados a menor renda na vida adulta, mas de forma indireta, por meio da escolaridade e das comorbidades psiquiátricas (Sampö et al., 2025).
O que a ciência mostra sobre TDAH, TOD e impactos futuros
1. TDAH: dificuldades cognitivas e acadêmicas
Pesquisas indicam que adolescentes com TDAH apresentam maior risco de baixa performance escolar, repetência e evasão (Faraone et al., 2021). Essas dificuldades educacionais explicam em parte os achados do estudo finlandês: menor escolaridade está associada a salários mais baixos na vida adulta.
2. TOD: problemas de comportamento e conflitos sociais
Segundo o DSM-5-TR (APA, 2022), o TOD envolve critérios como:
Humor irritável ou raivoso (por exemplo, perde a calma com frequência).
Comportamento argumentativo ou desafiador (discute com figuras de autoridade, desafia regras).
Atitude vingativa (pelo menos duas vezes em seis meses).
Esses padrões de comportamento podem comprometer a adaptação escolar e social, aumentando o risco de abandono dos estudos e dificultando o ingresso em carreiras estáveis (Burke; Rowe, 2020).
3. Efeito combinado de TDAH + TOD
Quando o TDAH ocorre junto ao TOD, o impacto negativo é potencializado. O estudo de Sampö e colaboradores (2025) mostrou que homens com sintomas de TDAH + TOD tiveram uma redução indireta de até 47% na renda média adulta em comparação a pares sem esses sintomas. Nas mulheres, a associação também existiu, mas foi mais fortemente mediada pelo nível educacional.
4. O papel das comorbidades psiquiátricas
Transtornos de ansiedade, depressão e uso de substâncias, muito comuns em indivíduos com TDAH (Biederman; Faraone, 2006), foram fatores importantes para explicar a redução da renda. Ou seja, quanto mais comorbidades, maior a chance de impacto negativo no futuro socioeconômico.
O que isso significa para pacientes e famílias
O TDAH e o TOD não acabam na adolescência. Seus efeitos podem influenciar escolhas educacionais, inserção no mercado de trabalho e até a estabilidade financeira na vida adulta.
A avaliação neuropsicológica é fundamental. Diferenciar sintomas nucleares de TDAH e TOD de comorbidades permite planejar intervenções eficazes.
Intervenções precoces fazem diferença. Apoio escolar, psicoterapia e manejo de comorbidades psiquiátricas reduzem os riscos futuros.
Conclusão
Os sintomas de TDAH e TOD na adolescência não devem ser negligenciados. Embora não impactem diretamente a renda adulta, eles atuam de forma indireta, afetando a trajetória escolar e a saúde mental. Isso reforça a necessidade de avaliações periódicas e acompanhamento especializado, para prevenir que dificuldades atuais se transformem em prejuízos significativos no futuro.
👉 Se você conhece um adolescente com dificuldades de atenção, impulsividade ou comportamento desafiador, entre em contato pelo site www.avaliacaneurotdah.com.br
e agende uma avaliação neuropsicológica completa. Cuidar hoje é investir no futuro.
Referências
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5-TR. Porto Alegre: Artmed, 2022.
BIEDERMAN, J.; FARAONE, S. V. The effects of attention-deficit/hyperactivity disorder on employment and household income. Medscape General Medicine, v. 8, n. 3, p. 12, 2006.
BURKE, J. D.; ROWE, R. Oppositional defiant disorder and conduct disorder: a review of the past 10 years, part II. Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry, v. 49, n. 11, p. 1086–1101, 2020.
FARAONE, S. V. et al. The world federation of ADHD international consensus statement: 208 evidence-based conclusions about the disorder. Neuroscience & Biobehavioral Reviews, v. 128, p. 789–818, 2021.
SAMPÖ, S.; HUIKARI, S.; KORHONEN, M.; NORDSTRÖM, T.; HURTIG, T.; HALT, A-H. Indirect associations between adolescent ADHD and/or oppositional defiant disorder symptoms and adult incomes: the mediating roles of education and co-occurring psychiatric disorders. European Child & Adolescent Psychiatry, 2025. DOI: 10.1007/s00787-025-02842-2.