Como o Tratamento Precoce do TDAH Pode Prevenir Depressão

28/08/2025

A comorbidade entre Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e depressão é um tema amplamente discutido na literatura científica e merece atenção especial de pais, educadores e profissionais da saúde mental. 

Estudos mostram que jovens com TDAH apresentam taxas mais elevadas de depressão em comparação com seus pares sem o diagnóstico (Biederman et al., 2008; Meinzer et al., 2019). 

 Quando ambos os transtornos ocorrem em conjunto, os sintomas tendem a ser mais graves, há maior prejuízo funcional, o tratamento pode se tornar mais desafiador e, infelizmente, observa-se um aumento do risco de hospitalizações e tentativas de suicídio (Chronis-Tuscano et al., 2010; Daviss, 2008). 

 Sintomas Sobrepostos e Dificuldades Diagnósticas 

 Um dos grandes desafios clínicos é que muitos sintomas do TDAH e da depressão se sobrepõem, como desatenção, dificuldades acadêmicas, fadiga e alterações de humor. Isso pode levar a erros diagnósticos ou ao subdiagnóstico, atrasando o início de um tratamento adequado (Wilens & Spencer, 2010). 

 Por essa razão, avaliações neuropsicológicas detalhadas desempenham um papel fundamental para diferenciar os sintomas, identificar comorbidades e guiar estratégias de intervenção personalizadas. 

 Impactos Funcionais e Riscos Associados 

 Adolescentes com TDAH e depressão apresentam maior risco de dificuldades acadêmicas, conflitos familiares e problemas sociais. 

Além disso, a coexistência das duas condições está associada a pior qualidade de vida e maior risco de comportamentos autodestrutivos (Barkley & Fischer, 2010). 

 Esse cenário reforça a importância da detecção precoce e do início rápido de intervenções baseadas em evidências. 

 A Importância do Tratamento Precoce 

 Evidências sugerem que o tratamento precoce dos sintomas de TDAH pode reduzir a probabilidade de episódios depressivos futuros (Molina et al., 2013). 

Estratégias eficazes geralmente incluem: 

  •  Tratamento medicamentoso (como estimulantes ou não-estimulantes, conforme indicação clínica); 
  •  Psicoterapia cognitivo-comportamental (TCC), adaptada para lidar com sintomas de ambos os transtornos; 
  •  Intervenções familiares e escolares, que ajudam a reduzir estresse, aumentar suporte e melhorar a adesão ao tratamento.

 Embora ainda existam poucos estudos de larga escala sobre protocolos integrados de tratamento para adolescentes com TDAH e depressão, já há recomendações clínicas baseadas em evidências que auxiliam profissionais de saúde na condução de casos com essa comorbidade (Pliszka, 2015). 

Conclusão 

 A comorbidade entre TDAH e depressão em adolescentes exige uma abordagem clínica cuidadosa, já que envolve riscos significativos e impacto profundo no desenvolvimento. 

O diagnóstico preciso e o tratamento precoce são fatores-chave para reduzir complicações, melhorar a funcionalidade e prevenir desfechos mais graves. 

 Se você é pai, mãe ou responsável e percebe sinais de desatenção, impulsividade, irritabilidade ou tristeza persistente em seu filho, uma avaliação neuropsicológica especializada pode ajudar a esclarecer o quadro e indicar o tratamento mais adequado. 

 Referências 

  • BARKLEY, R. A.; FISCHER, M. The unique contribution of emotional impulsiveness to impairment in major life activities in hyperactive children as adults. Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry, v. 49, n. 5, p. 503-513, 2010. 
  •  BIEDERMAN, J. et al. Impact of comorbidity in adults with attention-deficit/hyperactivity disorder. Journal of Clinical Psychiatry, v. 69, n. 8, p. 1221-1230, 2008. 
  •  CHRONIS-TUSCANO, A. et al. Very early predictors of adolescent depression and suicide attempts in children with attention-deficit/hyperactivity disorder. Archives of General Psychiatry, v. 67, n. 10, p. 1044-1051, 2010. 
  •  DAVISS, W. B. A review of co-morbid depression in pediatric ADHD: Etiology, phenomenology, and treatment. Journal of Child and Adolescent Psychopharmacology, v. 18, n. 6, p. 565-571, 2008. 
  • MEINZER, M. C. et al. Attention-deficit/hyperactivity disorder in adolescence predicts onset of major depressive disorder through early adulthood. Depression and Anxiety, v. 36, n. 11, p. 1060-1069, 2019. 
  •  MOLINA, B. S. G. et al. Childhood ADHD and growth in adolescent and young adult depression: Evidence for a developmental relation. Journal of Abnormal Psychology, v. 122, n. 4, p. 1021-1033, 2013. 
  •  PLISZKA, S. R. et al. Practice Parameter for the assessment and treatment of children and adolescents with attention-deficit/hyperactivity disorder. Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry, v. 46, n. 7, p. 894-921, 2015. 
  •  WILENS, T. E.; SPENCER, T. J. Understanding attention-deficit/hyperactivity disorder from childhood to adulthood. Postgraduate Medicine, v. 122, n. 5, p. 97-109, 2010.